Blogagem Coletiva: Viagens e perrengues em família – as boas lembranças que ficam

Eu fui uma das entusiastas para que este fosse o tema de uma blogagem coletiva, mas não ia participar porque ando com uma preguiça enorme para blogs (fechei os meus e só leio outros para procurar coisas bem específicas). Mas esta blogagem coletiva sobre perrengues de viagens está tão boa que é impossível não lembrar dos próprios perrengues, não rir dos perrengues dos outros. Eles podem ser horríveis na hora, mas certamente são as melhores risadas e lembranças de viagens.

??????????2007. Eu, aos quase 30, morando em São Paulo, já com uma filha de 10 meses, tenho a excelente ideia de levá-la a um dos locais da minha infância: Morro de São Paulo (sim, ficou famoso, você já deve ter ouvido falar, mas, quando eu era pequena, ninguém conhecia, nem os baianos de Salvador).

O que eu não sabia (ainda) é que os perrengues estão no DNA e não iam faltar. Não foi a primeira viagem da Cecília (foi a terceira ou quarta, acho), mas foi a primeira cheia de perrengues. Ela tinha 10 meses e não mamava mais no peito (tive muitas dificuldades na amamentação dela e fui mal orientada e nada apoiada) e tinha alergia a lactose. Tomava um leite de soja em pó.

Antes de sair para a viagem, separei uma lata e deixei em cima da mesa. Preparei uma mamadeira e devia guardar a lata na mochila. Na confusão da saída, não o fiz e só percebi na ilha. Resolvemos ir de catamarã, saindo de Salvador, para encurtar a viagem (aquela, que na minha infância incluía táxi, ferry-boat, ônibus, balsa etc etc.). Que ideia. O encurtamento foi terrível, o mar estava agitado, 97% da tripulação do catamarã vomitava sem parar. Um grupo de francesas deitou no chão vomitado, você via o líquido verde no chão, balançando pra lá e pra cá, junto com a embarcação.

Já alertada que isso (vômitos) poderiam acontecer, levei Dramin para a nossa família. Tomamos pouco antes do embarque. Cecília foi a primeira a dormir (no carrinho, porque nenhum de nós estava em condições de segurá-la nos braços, a gente quase não se aguentava). Eu consegui me escorar em dois bancos e capotei. Meu marido, enjoado e com sono, não dormiu para vigiar o nosso sono e nos salvar caso o catamarã afundasse. O negócio estava tenso, tão tenso, que na volta decidimos fazer o percurso da minha infância e não ter mais que passar por isso.

Na ilha, claro, apesar de já ter bem mais coisas que na década de 80, ainda não tinha leite de soja. Fiquei desesperada, porque leite ainda é o principal alimento de um bebê de 10 meses. Depois de muito peregrinar, consegui um de caixinha, mas fiz minha tia prometer que me levaria uma lata de Salvador. Ela o fez em dois dias e salvou a nossa viagem.

***

??????????Outro perrengue da Ciça, poucos meses depois desta viagem, foi em Montevidéu. Visitamos a cidade justamente nos dias em que os hermanos argentinos estavam fazendo um grande protesto nos campos, queimando tudo. O fumacê invadiu a capital uruguaia e os dias viraram noite, simples assim. Não se via o sol, não se via nada. Eu com um bebê de 1 ano e sem poder fazer nada, sem poder sair do hotel, sem achar papinha Nestlé salgada nos supermercados (ela tinha poucos dentes, eu era mãe de primeira viagem, não sabia o que improvisar para ela). Resolvi oferecer massas amassadas (desculpem a aliteração) e carne bem desfiadinha. Ufa, deu certo!

Mas passar vários dias se alimentando de massas e carne em uma cidade coberta com uma permanente nuvem negra não estava nos nossos planos. A única coisa boa disso tudo foi que eu, mesmo sendo asmática, não passei mal ao aspirar esta fumaça. Nem a Ciça, uma bebê alérgica como a mãe. Mas foi tenso e nos fez gastar mais dinheiro adiantando a volta, cancelamos a ida a Colônia do Sacramento (que estava mais afetada, por ser mais perto da Argentina) e demos nossa viagem pelo Uruguai por encerrada.

Além disso, já passamos por vários perrengues básicos: golpe de taxista que troca a sua nota em Buenos Aires (clássico, acontece com quase todo mundo que conheço, difícil evitar), crise de asma em Sevilha após me hospedar em uma casa que “fedia” a produtos de limpeza (dica: quem tem asma ou bronquite NUNCA pode viajar sem bombinha; mas, caso viaje, é uma das poucas coisas que as farmácias vendem sem receita, caso vejam que você realmente precisa, pelo menos comigo funcionou), infecções urinárias e outras doenças chatas. Em uma das minhas primeiras viagens com o meu marido (então namorado) tive uma infecção urinária junto com diarreia em Boipeba (outra ilha deserta na Bahia), em pleno Réveillon. Consegui ligar para o meu ginecologista em São Paulo, que me deu orientações, e, depois de muito peregrinarmos (era véspera de feriado), descolamos um antibiótico na única farmácia da ilha, mas, com o calor, o comprimido estava derretido). Detalhe: a gente namorava havia poucos meses e ele me via parando em qualquer lugar (qualquer mesmo, eu estava passando muito mal!) para fazer xixi e cocô no meio do mato, urrando de dor; suuuuper romântico, só que não.

Mais recentemente, tive infecção urinária em Paris (resolvido com um médico que atende em casa, Vive La France) e em Tirana, Albânia, onde fui a um hospital inglês e fui obrigada quase a fazer um check-up para constatar o que eu já sabia, mas ainda assim saiu mais barato que o médico em casa em Paris.

Já alugamos um apartamento bizarro num subúrbio de Viena e, ao chegarmos lá, descobrimos que o metrô do local estava em obras e não havia muito jeito de chegar ao centro da cidade, só de carro. Era um bairro turco, a mulher que tratou com a gente não falava uma palavra de inglês, o banheiro do apartamento fedia, recebemos reclamação pelo barulho das meninas (nossos “queridos” vizinhos em Paris também reclamaram da gente, o que rendeu uma batida de uma fiscal da prefeitura) e, numa das tentativas de ir ao centro, tomamos uma multa por estacionamento em local proibido (não havia placas). Sim, estávamos de carro, mas, numa cidade cara como Viena, isso mais atrapalha que ajuda.

Já pegamos estradas terríveis na Macedônia e Albânia, daquelas em que o GPS não se acha, o mapa não informa e, claro, ninguém fala inglês. Uma das estradas mais bonitas da Albânia, a El-Basan – Tirana, é como aquela da Colômbia (ou pior). Tira os Andes, coloca os Bálcãs, uma estrada altamente sinuosa, na beira do precipício sem NENHUMA proteção lateral. Encaramos esta viagem com duas crianças em um dia em que ameaçava chover (por sorte, a chuva nos esperou chegar a Tirana para cair). As crianças começaram a enjoar, a comida acabou e, por sorte, quando tudo ficou mais tenso, elas dormiram.  E eu rezando para não ter que sair do carro, pois estava de shortinho e passávamos por vilarejos ultra religiosos (islâmicos), não ia pegar bem, né? Para quem não sabe, a Albânia é a terra da vendeta, estes vilarejos são bem arcaicos, medievais, parados no tempo mesmo.

Nesta viagem, fomos também ao Kosovo, com nosso passaporte brasileiro. Para quem não sabe, o Brasil (nem a ONU) não reconhece o Kosovo como país, logo, se um kosovar quiser entrar no Brasil com um passaporte do Kosovo, não pode. Temíamos que pudesse acontecer o mesmo, mas entramos sem problemas. A única coisa chata foi que meu passaporte não foi carimbado (e que nos fizeram pagar mais 30 euros pelo seguro do carro no país, sendo que a nossa seguradora havia garantido que o seguro funcionaria lá; eu optei por pagar e não arriscar, não queria apuros no Kosovo. Acabou que foi um dos países mais tranquilos e agradáveis que visitamos, mas a Cecília detestou a cantoria das mesquistas em plena madrugada, em Prizren).

Já viajei muito sozinha com as duas e, desde a primeira viagem (a minha caçula tinha três meses, íamos de São Paulo para Brasília) tive que lidar com atrasos de avião (coisa de 5 horas, não é meia horinha não), aeroportos lotados, turbulências terríveis, falta de estrutura para carrinhos de bebê, muitas escadas, ter de pegar 32 quilos de mala com uma criança pequena e uma barriga de grávida e outras coisinhas que eu nem lembraria mais, não fosse o momento de pensar nisso.

Ou o da em que andei 8 quilômetros com as duas, em Berlim, porque achava que estava perto de casa e não queria ter que subir e descer os degraus do metrô com duas crianças e um carrinho. Não, eu não estava perto de casa, Berlim é uma cidade grande, em determinado momento, eu não achava mais o metrô e não tinha o mapa da linha de S-Bahn para saber qual deveria pegar. E continuava a andar, sempre na esperança de que logo ia chegar ou à casa onde estávamos hospedadas ou a uma estação de U ou S-Bahn sem escadas. Doce ilusão. A sorte foi que uma estava no carrinho e a outra naquelas pranchas que se acoplam. Ambas dormiram e chegamos em casa tarde da noite. Eu com bolhas no pé (estava de Havaianas) e morta de vergonha da minha tabaroíce (em baianês, tabaréu é um caipira, um incauto, que não sabe andar em cidade grande).

Em outra visita a Berlim, na casa da mesma amiga, fechei a porta com a chave dentro, porque saímos juntas. Ela estava com a chave dela, mas a minha chave ficou no trinco, do lado de dentro, impedindo a dela de abrir. A brincadeira custou 50 euros (podia ter sido 90, se eu não tivesse a “sorte” de encontrar um chaveiro na esquina de casa, que tinha um tempinho para me atender depois do almoço. Se eu ligasse para ele, seria 90. Ele abriu a porta em menos de 30 segundos, mas não teve conversa. Serviços na Europa são caros, então todo cuidado é pouco.

Teve uma vez também em que a ANTA aqui resolveu ir para a Argentina de ônibus sem passaporte nem identidade. Fui só com a minha carteira de jornalista da FENAJ, que eu usava como documento de identidade no Brasil, onde está escrito “válida em todo o território nacional”, como no RG. Mas NÃO tem valor para imigração (como o RG, que tem valor para o Mercosul).

Desta vez, eu estava sozinha, antes de ter filhos. Tinha ido a Porto Alegre a trabalho, consegui em cima da hora uns dias livres, juntei com fim de semana e fui para Buenos Aires visitar uma amiga. Quando me avisaram, na fronteira, de madrugada, que eu precisaria voltar, desci do ônibus, atravessei a fronteira a pé (não podia, ainda bem que não fui metralhada) e fui, na maior cara de pau, falar com os policiais de imigração. O da PF brasileira nem levantou o olho para me ouvir e disse que eu teria de ficar em Uruguaiana.

No lado argentino, os caras me ouviram. Tive que escutar umas cantadas escrotas, fingi que não ouvi, disse que ia para a cidade por apenas 5 dias e me deram uma permissão de entrada por apenas 5 dias. Se eu perdesse o papel, teria sérios problemas. Claro que cuidei deste papel como se fosse um filho e fiz uma promessa ali mesmo de que, se passasse tudo bem por isso, eu, que não tive criação religiosa e sou ateia, iria a uma missa na catedral da Sé, em São Paulo, onde eu morava. Nunca cumpri a promessa, deve ser por isso que os meus perrengues não acabam. Nem as viagens, ainda bem!

O lado bom dos perrengues, além das risadas e lembranças hilárias que rendem depois (na hora, em geral, eu sou o mau humor em pessoa, brigo com o marido, não consigo me descontrair, mas depois que a gente relaxa, fica muito engraçado), é que eles te tornam muito mais abertos ao novo, ao desconhecido, às surpresas e imprevistos do percurso. Afinal, viajar é isso, não?

De Paloma Varón – Grupo Viagens em Família

******************

Vejam os posts dos outros blogs que estão participando desta blogagem coletiva:

1. Claudia Pegoraro, Felipe, o pequeno viajante: http://felipeopequenoviajante.blogspot.com.br/2013/08/blogagem-coletiva-o-pequeno-perrengueiro.html

2. Karen Schubert Reimer, As Aventuras da Ellerim Viajante: http://ellerimviajante.com.br/2013/08/blogagem-coletiva-perrengues-que-passamos-viajando-em-familia-frustracao-em-veneza.html

3. Cinthia Rangel, Boa Viagem: http://boa-viagem7.webnode.com//

4. Adriana Pasello, Diário de Viagem: http://www.diariodeviagem.com/photo/blogagem-coletiva-nossos-perrengues-de-viagem-em-familia/

5. Francine Agnoletto, Viagens que Sonhamos: http://www.viagensquesonhamos.blogspot.com.br/2013/08/surpresasnuma-viagem-punta-del-este.html

http://viagensquesonhamos.blogspot.com.br/2013/08/perrengues-em-familia-o-retorno.html

6. Eder Rezende, Quatro Cantos do Mundo: http://quatrocantosdomundo.wordpress.com/2012/03/04/a-nem-tao-perigosa-nairobbery-nairobi-quenia/

7. Erica Kovacs, Viagem com Gêmeos: http://viagemcomgemeos.com/2013/08/11/perrengue-da-primeira-viagem-internacional-a-historia-da-vitamina-de-aveia/

8. Debora Godoy Segnini, Gosto e Pronto: http://www.gostoepronto.com/2013/08/blogagem-coletiva-perrengues-de-viagem/

9. Ludmyla De Sena Broniszewski, Two Many Sides of Me: http://twomanysidesofme.wordpress.com/2013/08/08/perrengues-de-viagem-perrengue-numero-3-blogagem-coletiva-viagens-em-familia/ (este é o perrengue 3! Tem o 1 e o 2!!)

10. Renata Schiffer, A Renata teve infância e sabe ser feliz!: http://www.renataschiffer.com.br/?p=541

11. Andréia Mannarino, Mistura nada básica: http://misturanadabasica.blogspot.com.br/2013/08/blogagem-coletiva-perrengues-que.html

12. Andréa Barros, Do RS para o Mundo: http://dorsparaomundo.blogspot.com/2013/08/segunda-blogagem-coletiva-os-perrengues.html

13. Andrea Martins, do Malas e Panelas: http://malasepanelas.com/viagens-em-familia-saudades-do-carrinho/

14.Aryele Herrera, Casa da Atzin: http://casadaatzin.wordpress.com/2012/10/19/o-dia-em-que-eu-apaguei-em-toquio/

15. Flávia Maciel, Bebê pelo Mundo: http://bebepelomundo.blogspot.com.br/2013/08/blogagem-coletiva-viagens-em-familia.html 

16. Renato Martins, do Renato Blogging: http://renatoblogging.blogspot.com.br/2013/08/o-maior-perrengue-que-passamos-viajando.html

17. Sut-Mie Guibert, Viajando com Pimpolhos: http://viajandocompimpolhos.com/2013/08/12/blogagem-coletiva-nossos-perrengues-de-viagem-em-familia/

18. Andreza Trivillin, Andreza Dica e Indica Disney: http://www.andrezadicaeindicadisney.com.br/2013/08/blogagem-coletiva-perrengues-de-viagem.html

19. Debora Galizia, Viajando em Família: http://viajandoemfamilia.com.br/blogagem-coletiva-perrengues-de-viagem/

20. Thiago Cesar Busarello, Vida de Turista: http://www.vidadeturista.com/artigos/blogagem-coletiva-perrengues-de-viagem/

21. Ana Cinthia Cassab Heilborn, Travel Book: http://www.travelbook.blog.br/2013/08/nossos-perrengues-de-viagem-em-familia.html

22. Ingrid Patrícia Cruz, Viagens em Família: https://grupoviagensemfamilia.wordpress.com/2013/08/13/blogagem-coletiva-todo-mundo-tem-um-perrengue-pra-contar/

23. Michely Lares, Viagens da Família Lares: http://viagensdafamilialares.blogspot.com.br/2013/08/blogagem-coletiva-perrengues.html?m=1

24. Karla Alves Leal, Cariocando por aí: http://www.cariocandoporai.com.br/2013/08/blogagem-coletiva-perrengues-de-viagem.html

25.Marcia Tanikawa, Os Caminhantes Ogrotur: http://oscaminhantes.com/2013/08/blogagem-coletiva-perrengues-de-viagem.html

26. Mônica Paranhos, Viagens em Família: https://grupoviagensemfamilia.wordpress.com/2013/08/15/blogagem-coletiva-nossos-perrengues-de-viagem-em-familia/

27. Patricia Papp, Coisas de Mãe: http://coisasdemae.wordpress.com/2013/08/15/blogagem-coletiva-o-dia-que-a-luiza-parou-o-metro-de-londres/

28. Cynara Vianna, Cantinho de Ná: http://cantinhodena.com.br/2013/08/15/perrengues-e-viagens-quem-nunca-passou-por-um/

29. Cristiane Martins, Dias Viajando por aí: http://diasviajandoporai.blogspot.com.br/2013/08/blogagem-coletiva-perrengues-em-viagens.html

30. Guilherme Canever, Saiporaí: http://saiporai.com/tambemsai/

Leave a comment